O MENINO DAS SAMAÚMAS

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Descrição

Alberto Cohen é um poeta surpreendente. No melhor sentido da palavra. Há pouco nos encantamos com seu rigor métrico, rígido nos cânones consagrados do soneto. Lembremos os primores que são Cantigas que a rua canta e Álbum de recordações.
Alberto Cohen, um dos melhores do país. E com a passagem do saudoso Miguel Russowsky, não sei se, agora, isoladamente, o melhor. Como merece.
Explico o adjetivo surpreendente. Não é que agora nos mostra uma faceta absolutamente dispare, singular, incomum em sua obra? Nem por isso menos bela. Ou por isso mesmo, ainda mais bela.
Em Menino das Samaúmas, um título riquíssimo, ousa transgredir com o verso absolutamente despojado de ritos, mas com o ritmo e a musicalidade dos grandes poetas. Desnuda-se de padrões para alcançar um padrão onde os poemas desfiam-se em imagens arrojadas. E apresenta-as com uma roupagem ousada e ao mesmo tempo dos simples mortais. Como dizia Mario Quintana: Na poesia se dá mil voltas enlouquecidas até se chegar à simplicidade. Ou seja, à grande poesia.
E quão grande texto é este, O grito, entre dezenas de outros que este Menino, desde a linda região Norte, apresenta ao Brasil:

O grito

Nem ao menos é todo o desespero,
nem dói a dor antiga, como outrora.
Leve tremor nas mãos, mais um cigarro,
e o cinza a se espalhar pelas paredes.
Que a dor venha doer inteiramente,
tornando-me completo e costumeiro.
A dor que dói um pouco não dói nada,
apenas faz pequeno o sentimento
que um dia foi paixão desesperada.
Volte bem grande, embora ensandecido,
o brilho nos meus olhos, no meu grito,
antes que apague e eu seja esquecido.

Comovente, não? Queres mais? Eis um testamento da perenidade do Poeta. Testemunho que serve a todos versejadores que sonham com a imortalidade da Poesia. E é de crer-se, sim. Leia atentamente o poema Quase eternos, na página 40.
Mas ainda que um dia acaso viesse a senhora da foice, muito temos de viver e vivenciar a amada; mesmo depois de o leito vazio, cheio de saudades. Em um amor Qualquer:

O absurdo maior é estar aqui
sem ser amado,
sem colher flores,
sem andar na chuva,
sem ouvir obrigado,
com tanto amor apenas esperado,
a casa toda pra enfeitar com flores,
essa vontade de andar pela chuva,
e a carência de um muito obrigado.
Finalmente, num dia qualquer,
num delírio qualquer,
num nem sei por quê qualquer,
escrevi este poema que recuso,
terminantemente, chamar de qualquer.

Muito mais haveria a dizer, mas agora o melhor que devemos fazer é nos emocionarmos com o luxo poético que temos pela frente, sentados à sombra das Samaúmas deste Menino incrível chamado Alberto Cohen.